Por Joana Lameira – Swood Team
A crise dos refugiados tem transformado a vida de milhares de pessoas em todo o mundo. Muitos são aqueles que deixam as suas casas e os seus países para escapar a guerras, conflitos armados, perseguições e violações dos direitos humanos. Deixam tudo para trás e seguem rumo a destinos incertos. Arriscam a própria vida, fugindo pelos meios mais precários possíveis, com a única esperança e o sonho de um futuro mais seguro.
Para uma melhor compreensão, é importante perceber a diferença entre refugiado e migrante. O migrante muda-se para outro país por escolha pessoal e com a intenção de melhorar as suas condições de vida. Ainda que se trate de pessoas em situação de extrema pobreza, estas não são consideradas refugiados. De acordo com a Convenção de 1951 relativa ao Estatuto de Refugiado, um refugiado é uma pessoa que “receando com razão ser perseguida em virtude da sua raça, religião, nacionalidade, filiação em certo grupo social ou das suas opiniões políticas, se encontre fora do país de que tem a nacionalidade e não possa ou, em virtude daquele receio, não queira pedir a proteção daquele país”. Desta forma, pessoas com estatuto de refugiado têm o direito firmado em legislação internacional de receber assistência do Alto Comissariado das Nações Unidas para os Refugiados (ACNUR), dos Estados e das organizações especializadas.
Um dos maiores desafios que os refugiados enfrentam nos seus países de acolhimento é realmente a integração no mercado de trabalho. Ainda que lhes seja dado apoio e suporte, a inserção conta com vários obstáculos que podem ser individuais, nacionais ou até organizacionais. A nível individual, destacam-se problemas como habilidades inadequadas, baixa escolaridade, pouca ou nenhuma fluência no novo idioma ou mesmo questões de cariz psicológico, como transtornos de stress pós-traumático. Ao nível nacional, as barreiras envolvem dificuldades como crise económica, falta de emprego, rejeição social, diferenças culturais e de religião. Por fim, as barreiras organizacionais podem apontar para altos requisitos de linguagem por parte das empresas, processos de recrutamento tendenciosos, o não reconhecimento de qualificações e a discriminação.
Em muitos casos, as habilitações académicas das pessoas refugiadas tornam-se irrelevantes e incompatíveis com as exigidas no novo país. O pouco domínio da língua, a falta de experiência, aliado ao fato do candidato não apresentar referências de empregadores anteriores, dificulta muito a sua inserção. Até mesmo refugiados altamente qualificados enfrentam dificuldades para encontrar trabalho. Em muitos casos, aqueles que ocupavam cargos elevados nos seus países de origem, não conseguem inserir-se em atividades semelhantes, estando suscetíveis, na maioria das vezes, ao subemprego ou a trabalhar em fábricas e restaurantes onde normalmente há mais vagas disponíveis. A inserção no mercado de trabalho é ainda mais difícil para a mulher refugiada. Em geral, o emprego para o público feminino em situação de refúgio torna-se um grande desafio devido a fatores como o longo tempo que muitas passaram como donas de casa a cuidar dos filhos e das tarefas do lar ou os valores tradicionais defendidos nos seus países quanto aos papéis de género.
A integração no mercado de trabalho, além dos esforços sociais, legais e económicos, também requer uma inclusão cultural. A cultura pode promover uma integração mais fácil, quando une paradigmas semelhantes, ou mais problemática, quando esses paradigmas são divergentes. Neste sentido, o acesso ao emprego de muitos refugiados encontra problemas como preconceito e intolerância, por exemplo ao modo de vestir, de se comportar, de pensar ou falar. Há ainda muitas organizações que tendem a impor a cultura local, não reconhecendo os valores culturais dos refugiados. Por sua vez, a religião é um outro fator que molda as experiências do refugiado e que pode influenciar as suas relações sociais e de trabalho. Por exemplo, a necessidade de orações em diferentes horários do dia, podem levar a uma discriminação religiosa.
Todos estes fatores dificultam a integração dos refugiados e podem até suscitar medo diante de uma realidade difícil, fazendo com que muitos se limitem a adotar uma postura reconhecedora das suas limitações e de gratidão pelas oportunidades dadas. Para amenizar estas situações, é fundamental criar estratégias que combatam a exclusão e o subemprego. Deve-se, portanto, apoiar e capacitar estas pessoas, através da educação, de formações e da promoção da igualdade de oportunidades. A sociedade como um todo deve agir de forma a facilitar a sua integração. Afinal, estas pessoas só procuram um lugar seguro onde possam viver. Sim, viver. Porque é de sobrevivência que se trata.