Por Joana Lameira – Swood Team
A população muçulmana cumpre atualmente a prática do Ramadão, o nono mês do calendário islâmico. Por estes dias, vivem privados dos prazeres mundanos, desde o nascer até ao pôr do sol, praticando o ritual de jejum.
O jejum consiste na abstinência total de alimentos, líquidos, tabaco e relações sexuais. Salienta a tradição que é preciso jejuar de boca e de pensamento. Por isso, também não se deve pronunciar certas palavras ou ter pensamentos imorais. O jejum é um dos cinco pilares do Islão: os restantes são o credo (profissão da fé), a oração, a caridade (esmola) e a peregrinação a Meca.
Embora seja um tempo de abstinência, durante o Ramadão há duas refeições, uma antes e outra depois do jejum diário: o “su-hoor” – refeição idêntica ao pequeno-almoço que acontece todas as madrugadas antes do nascer do sol e antecipa o jejum; e o “iftar” – refeição que acontece no fim de cada dia, depois do pôr do sol, onde os muçulmanos quebram obrigatoriamente o jejum antes da oração. É também o momento em que se reúnem, família e amigos, e celebram a fé.
O Ramadão é obrigatório para todos os muçulmanos de ambos os sexos. Contudo, estão dispensados doentes, idosos, crianças que ainda não atingiram a puberdade, crentes que estejam a efetuar viagens longas, bem como mulheres grávidas, menstruadas ou que estejam a amamentar. Aqueles que, voluntária ou involuntariamente, quebrem o jejum devem compensar os dias noutra altura do ano.
Para os muçulmanos, este mês é muito mais do que apenas um período de jejum. É um exercício de autocontrolo espiritual e disciplina, que fortifica a vontade e os ensina a lidar com a privação e a resistir a tentações. Serve ainda para limpar a alma e concentrar a atenção em Deus. Simbolicamente, este é o mês em que os muçulmanos acreditam que as escritas do Corão começaram a ser reveladas a Maomé, o último profeta do Islão. Para os crentes, é um tempo de renovação da fé, de caridade, de fraternidade e de valorização da família.
A data de celebração do Ramadão varia todos os anos, mas tem sempre a duração de 29 ou 30 dias. Isto acontece porque os muçulmanos regem-se pelo calendário lunar. A cada ano, o período de jejum antecipa sensivelmente 11 dias, surgindo desfasado do calendário gregoriano e passando por todos os meses e estações.
Revelar sensibilidade e respeito pelos familiares, amigos ou colegas de trabalho que professem o Islão, passa por evitar comer ou beber na sua presença, não agendar almoços de trabalho, não deixar de parte o colega muçulmano na pausa para o café e desejar-lhes um bom Ramadão (“Ramadan Mubarak”). Conhecer, respeitar e aceitar as diferentes formas de religiosidade e tradições é muito importante, inclusive dentro das organizações.
Numa sociedade aberta, as diferenças religiosas podem tornar-se uma oportunidade de diálogo, de troca de aprendizagens e de consciencialização para a diversidade da existência humana. É triste que em muitos lugares as vantagens dessa diversidade não sejam ainda notadas.
Não é novidade que a intolerância religiosa tem sido, ao longo dos anos, um dos motivos da violência, dos conflitos, das guerras em diversos países. Vejamos o que acontece atualmente no Myanmar, onde o povo Rohingya está a ser perseguido e massacrado pelo exército birmanês. Homens, mulheres e crianças fogem da morte no seu país por serem muçulmanos e vivem com medo de possíveis ataques neste mês do Ramadão.
Perante a dureza desta realidade e de tantas outras, falar em paz pode ser algo um tanto irrealista, mas é necessário. Para que a paz prevaleça, é imprescindível que as pessoas compreendam, respeitem e aceitem as diferenças culturais e religiosas – crenças, costumes, tradições, formas de estar e viver. Não há nada mais enriquecedor do que a diversidade do ser humano. Respeitar a diferença é respeitarmo-nos uns aos outros.
A todos os muçulmanos, “Ramadan Mubarak”.