Nos últimos anos, vemos uma crescente problematização sobre como a produtividade desenfreada e a sobrecarga de tarefas estão afetando negativamente pessoas em todo o mundo. Como respostas a essa questão, vieram à tona o debate e as experiências em torno de uma jornada reduzida de trabalho.
O tema, que vem sendo pauta há algum tempo, ganhou novamente visibilidade em abril deste ano, quando o Chile se tornou o segundo país da América Latina a aprovar a redução da semana de trabalho – passando de 45 para 40 horas semanais -, de forma gradual, nos próximos cinco anos; o Equador foi o primeiro país latinoamericano a aderir à semana recomendada pela Organização Internacional do Trabalho.
Mas isso cola por aqui? Quais as vantagens da jornada reduzida de trabalho para empresas e pessoas colaboradoras? Vamos entender isso juntos neste artigo que preparamos para você. Pegue a sua caneca e boa leitura!
As experiências da jornada de trabalho pelo mundo – e os resultados até aqui
Embora algumas empresas brasileiras tenham implementado a semana de quatro dias de trabalho, esta ainda é uma realidade que engatinha por aqui. Já quando analisamos globalmente, existem diversos países em que a prática vem sendo adotada – e com êxito!
Um dos cases mais significativos aconteceu no Reino Unido: apoiadas pela 4 Day Week Global Foundation, organização que tem como objetivo financiar pesquisas sobre práticas de 4 dias semanais e o bem-estar no local de trabalho, 61 empresas inglesas testaram o formato. Em parceria com o Boston College e as universidades de Oxford e Cambridge, o experimento de seis meses indicou resultados bem satisfatórios, sendo que 18 organizações afirmaram que continuariam no modelo de forma permanente; e outras 38 disseram que seguiriam com os testes.
Para esses experimentos, as empresas, de diversos segmentos com até 3 mil colaboradores, ofereceram diferentes abordagens – por exemplo, folga na sexta-feira ou 80% da carga horária padrão que poderiam ser utilizadas de maneira flexível. E sim, o salário se manteve 😉
Em comparação com o mesmo período de 2021, o faturamento das empresas participantes do estudo sobre a jornada reduzida aumentou, em média, mais de um terço. Além disso, a aprovação da redução na jornada alcançou 85% na experiência geral; e 75% de aprovação em termos de produtividade e estratégia de negócios. De acordo com Juliet Schor, diretora do estudo, economista e socióloga no Boston College, comentou que “os resultados, em geral firmes, em diferentes locais de trabalho mostram que essa é uma inovação que funciona para diversos tipos de organização.”
Espanha, Escócia, Islândia, Emirados Árabes e Estados Unidos também ingressaram em projetos de teste para verificação do impacto da jornada reduzida de trabalho. Portugal se juntará ao time, realizando o maior teste do mundo a partir do segundo semestre de 2023 – e, detalhe importante: o país ibérico está no terceiro lugar na classificação das maiores jornadas de trabalho no mundo, segundo a Organização para a Cooperação e Desenvolvimento Econômico (OCDE). Vamos ficar de olho nos resultados!
Jornada reduzida de trabalho e bem-estar dos colaboradores
Como falamos no início, a ideia de que trabalhar longas jornadas é sinônimo de alta performance está custando caro para a saúde das pessoas. Com o atravessamento da pandemia, os casos de burnout aumentaram – e seguem aumentando – e muitos de nós começamos a questionar a nossa relação com o trabalho – será mesmo que precisamos ‘nos matar de trabalhar’?
Neste sentido, profissionais pressionam empresas para que estas repensem modelos de trabalho e considerem aqueles que favoreçam o bem-estar e a saúde mental. E isso é uma questão estratégica: pesquisas mostram que a busca por mais qualidade de vida e por mais equilíbrio entre vida pessoal e profissional é um dos principais fatores da onda de demissões voluntárias.
É claro que essa decisão é reservada a uma classe de trabalhadores mais privilegiados, mas ainda assim, é um sinal de alerta para que organizações entendam para os novos sentidos do trabalho na vida das pessoas.
Quando olhamos para a prática da jornada reduzida de trabalho podemos encontrar uma oportunidade de manter a produtividade – e até mesmo aumentá-la – sem colocar em risco o bem-estar e a saúde mental das pessoas. Isso, no entanto, não significa concentrar a mesma demanda de tarefas em menos tempo, mas sim, mudar a mentalidade sobre o que é ser produtivo.
De acordo com os resultados dos testes realizados no Reino Unido, vemos um caminho possível para a jornada de trabalho conciliar o bem-estar das pessoas e o desempenho positivo no trabalho. Veja só!
- 71% dos colaboradores tiveram níveis reduzidos de esgotamento no final do experimento
- 39% estavam menos estressados
- 43% sentiram uma melhora na saúde mental
- 37% dos colaboradores perceberam melhorias em saúde física
- 40% viram uma redução nas dificuldades de sono
Já em termos de retenção de talentos, o número de desligamentos diminuiu 57% durante o período experimental.
Fonte: A global of the overview 4 day week | 4 Days Week Pilot Results
Implementar a semana reduzida de trabalho no Brasil representa um grande desafio para as organizações, já que a cultura e a realidade são bem diferentes quando olhamos para outros países. No entanto, como profissional de Gestão de Pessoas, é fundamental conhecer outras tendências e possibilidades, especialmente quando vemos um futuro do trabalho que convida para a autonomia, para a flexibilidade, para a fluidez e para o bem-estar. Então, conte para gente: como você acredita que é possível empresas testarem a jornada reduzida de trabalho por aqui?
Esperamos você para a conversa!
Até logo 😉