Bem-estar, qualidade de vida e flexibilidade são conceitos que estão norteando o mundo do trabalho. Com a chegada e a permanência de modelos remotos e híbridos, profissionais revisitaram suas prioridades e estão demandando cada vez mais que as empresas atendam a esses aspectos, seja para aceitar uma proposta ou se engajar na organização. É neste contexto, em que se estabelece uma nova hierarquia de valores, que o debate sobre a jornada de 4 dias na semana ganha força.
Por isso, hoje, queremos te levar por um caminho que apresenta como a semana com três dias de folga está se saindo pelo mundo, quais as questões legais envolvidas e como sua empresa pode se beneficiar com essa nova proposta. Embarque com a gente!
O novo sentido do trabalho
Neste post aqui, falamos sobre a ressignificação do trabalho na vida das pessoas, o que nos ajuda a entender por que as empresas devem refletir e abraçar novas perspectivas também. Afinal, quem achou que o fenômeno conhecido como “Grande Renúncia” (“Great Resignation”, em inglês) não iria chegar ao Brasil, perdeu a aposta. Por aqui, no entanto, o cenário é bem diferente do que vemos nos Estados Unidos, onde a onda de demissões voluntárias começou. Enquanto lá o desemprego está em aproximadamente 4%, aqui, 12 milhões de pessoas estão sem trabalho, cerca de 11% da população.
Ainda assim, o índice de pedidos de demissão alcançou os maiores níveis dos últimos oito anos. Por mês, quase 500 mil trabalhadores decidem deixar seus empregos, segundo análises do Cadastro Geral de Empregados e Desempregados, entre 2016 e 2021. E a pergunta que fica é: o que move essas pessoas a tomar essa decisão?
Quando consideramos que flexibilidade é um dos benefícios mais esperados pelos profissionais, devemos lembrar também que para os Millennials isso é mais importante até do que o salário. E são eles que, em 2050, chegarão a representar 70% da força de trabalho no mundo.
Especialistas apontam diversas razões para o rompimento dos contratos, mas, um dos motivos que muito provavelmente entram na conta é a busca por mais qualidade de vida. Neste sentido, as organizações devem rever o que e como oferecer o que as pessoas precisam para que empregos e negócios se mantenham prósperos, não acha? 😉
Trabalhar quatro, folgar três
Embora o empresário Jack Ma, da gigante Alibaba, e outros defendam o esquema das 9 às 9, seis dias por semana, sabemos o quão perigoso e problemático é o excesso de trabalho para a saúde das pessoas. Casos de burnout dispararam nos últimos anos, distúrbio que tem na raiz a crença de que trabalhar muito é sinônimo de sucesso, produtividade, comprometimento.
No entanto, com as mudanças que estamos atravessando enquanto sociedade, é possível romper com esses paradigmas e tornar a relação com o trabalho mais saudável e sustentável. E a jornada com quatro dias na semana vem sendo explorada como um caminho para isso. Na vanguarda do movimento por uma experiência mais equilibrada estão companhias como o Yahoo Japan (Japão); a consultoria de engenharia Earth Science Partnership (Reino Unido); a Unilever (Nova Zelândia); e a Dockwa, startup de aluguéis de barcos (Estados Unidos). Em território nacional, a Zee.Dog é a representante da tendência, adotando a jornada de quatro dias na semana desde março de 2020.
No caso da empresa brasileira, as quartas-feiras são os dias de folga – em caso de feriados na semana, este dia é considerado como dia de trabalho. Após a primeira semana de teste, segundo uma pesquisa realizada internamente, 100% dos colaboradores ficaram satisfeitos e as entregas ocorreram dentro dos prazos definidos.
“Devemos apoiar o bem-estar de nossos funcionários” foi a fala do CEO da Panasonic, Yuki Kusumi, ao anunciar a implementação do modelo na matriz no Japão. Para as empresas, o principal objetivo de colocar em prática a jornada com quatro dias de trabalho é encontrar convergência entre o bem-estar e a qualidade de vida, demandada pelas pessoas, e aumentar a produtividade e o engajamento, necessidades vitais para os negócios. Além disso, ainda podemos observar vantagens, como a:
- redução do absenteísmo: com um dia a mais de folga, as pessoas teriam mais tempo para realizar exames, fazer consultas, organizar a vida pessoal e, assim, faltar menos ao trabalho.
- redução de despesas para a empresa: com um dia a menos de gastos com energia e recursos do escritório, há maior possibilidade de cortar custos do orçamento.
O que diz a legislação trabalhista sobre a jornada de trabalho?
Especialistas consultados sobre as possíveis amarras legais para a jornada de quatro dias de trabalho se tornar cada vez mais realidade no mundo corporativo afirmam que não há impedimento. A Constituição Federal de 1988 estabelece 44 horas como limite máximo, podendo ter duas horas adicionais, como horas extras. Isso significa que é legalmente viável criar a jornada menor, com quatro dias, mas o empregador não pode distribuir as 44 horas em menos dias, aumentando a carga diária, por exemplo.
Gabriela Diehl, especialista em direito empresarial internacional, em entrevista para a Forbes, comenta que “atualmente, a legislação estabelece uma carga horária semanal de até 44 horas, mas não diz nada sobre menos que isso.” O ponto de atenção é o fato de que reduzir a jornada não permite a redução de salário para colaboradores já contratados. Caso a empresa queira realizar uma alteração salarial neste sentido, será preciso um acordo coletivo com as entidades sindicais das categorias, o que torna a situação mais complexa.
Em um mundo em constante transformação, se abrir para novas possibilidades é mais do que um convite: é uma convocação. Refletir, dialogar, experimentar e aperfeiçoar, continuamente são verbos que precisam fazer parte do dia a dia das organizações e dos profissionais de RH, para entender o que funciona para as pessoas e para a gestão, dentro das particularidades de cada negócio. Depois de entender melhor sobre a jornada de trabalho com quatro dias, o que você acha: será que essa proposta irá conquistar mais espaço nas empresas? Como você enxerga essa alternativa? Comente aqui e vamos conversar!
Até logo! 🙂
2 thoughts on “Jornada de 4 dias na semana: por que as empresas precisam olhar para isso?”