Por Joana Lameira – Swood Team
Nos últimos anos, o interesse social sobre o assédio moral no trabalho tem aumentado, bem como a investigação científica neste campo. Porém, este não é um fenómeno novo. Na realidade, os comportamentos de assédio existem desde que as pessoas exercem poder umas sobre as outras. O desequilíbrio de poder, ou abuso de poder por uma das partes, é uma das caraterísticas da agressão psicológica dentro das organizações. De facto, o ambiente de trabalho é para muitos um lugar hostil onde prevalecem comentários ofensivos, humilhações, críticas persistentes, ameaças diretas ou indiretas.
Mas afinal, em que consiste o assédio moral no trabalho?
Pois bem, o assédio moral ocorre quando um indivíduo é repetidamente e por um longo período de tempo exposto a comportamentos negativos de natureza não sexual e maioritariamente não violenta, sendo incapaz de se defender. Este tipo de violência psicológica, que pode ser individual ou coletiva, afeta não só a qualidade de vida e o bem-estar dos trabalhadores, mas também a sua performance no trabalho e produtividade. Assim, quando falamos de assédio moral, não se trata de incidentes únicos e isolados, mas sim, de atos negativos que são repetidamente apontados para um ou mais funcionários.
Os comportamentos de assédio moral no meio laboral são muitos, podendo ser divididos em três categorias principais:
- relacionados com o trabalho, ex.: receber tarefas com prazos inviáveis ou cargas de trabalho incontroláveis, monitoramento excessivo, ser obrigado a fazer um trabalho abaixo do seu nível de competência;
- direcionados à pessoa, ex.: ser humilhado ou ridicularizado em conexão com o trabalho, receber insultos ou comentários ofensivos, ser alvo de críticas persistentes, ser ignorado, ser excluído de equipas de trabalho;
- intimidação física, ex.: ser alvo de comportamentos intimidantes como apontar o dedo, empurrar, bloquear o seu caminho.
Estes comportamentos afetam as vítimas, mas também as organizações. As consequências para as vítimas são muitas, desde problemas físicos (ao nível da saúde, ansiedade), problemas emocionais e psicológicos (depressão, baixa autoestima), até problemas relacionados com o trabalho (intenção de deixar a organização, absenteísmo, deterioração do desempenho, falta de comprometimento). Estes tipos de comportamentos negativos, pela sua natureza repetitiva e prolongada, podem fazer com que as vítimas sofram profundamente, prejudicando as suas vidas profissionais e exaurindo-as emocionalmente.
A prevalência de assédio moral acaba por impactar também a produtividade das empresas, tornando-as menos eficientes. A falta de comunicação, a insatisfação no trabalho, os conflitos resultantes do assédio, perturbam as relações interpessoais entre os funcionários e acabam por se refletir na degradação da atividade da empresa como um todo.
Em Portugal, apesar de já ser possível criminalizar o assédio moral no trabalho, ainda é muito difícil para as vítimas provar que este realmente aconteceu. Em muitos casos, acabam por desistir dos processos judiciais por causa de todo o sofrimento psicológico causado ou mesmo por vergonha. Além disso, as queixas de assédio moral no local de trabalho parecem ficar aquém da realidade vivida por muitos funcionários.
O assédio moral no local de trabalho é um problema grave que precisa de ser falado e desmistificado. Há quem diga que a agressão psicológica é muito mais perigosa do que a agressão física. Por isso, não podemos ignorar estes tipos de comportamentos. É preciso falar abertamente sobre eles. Para que as pessoas/vítimas não achem que devem aguentar estes atos negativos por necessidade, por terem menos poder na organização ou por outra razão qualquer e denunciem. Para que as empresas aprendam a evitar que tais comportamentos de abuso de poder aconteçam no seu seio, criando uma cultura de respeito mútuo, que fomente o bem-estar e a cooperação entre todos.
Fontes:
Einarsen, S., Hoel, H., Zapf, D., & Cooper, C. (2011). The Concept of Bullying and Harassment at Work. In Bullying and Harassment in the Workplace: The European tradition. (pp. 3–39). CRC Press. https://doi.org/10.1201/EBK1439804896-3
Gupta, P., Gupta, U., & Wadhwa, S. (2020). Known and Unknown Aspects of Workplace Bullying: A Systematic Review of Recent Literature and Future Research Agenda. Human Resource Development Review, 19(3), 263–308. https://doi.org/10.1177/1534484320936812