Por Joana Lameira – Swood Team
No Swood, o mês de março será totalmente dedicado à mulher! Decidimos dar voz a figuras femininas de relevo para partilharem a sua experiência. O nosso objetivo é destacar mulheres que ocupam posições de liderança e que são excelentes profissionais em diferentes áreas de atuação, passando o seu testemunho e encorajando mais meninas e mulheres a seguir o seu próprio caminho. Afinal, a mulher é um ser incrível capaz de tudo!
Catarina Furtado, uma figura muito conhecida dos ecrãs portugueses, é a nossa quarta entrevistada. É apresentadora, atriz, autora e documentarista, sendo co-autora dos documentários “Dar Vida Sem Morrer”, realizados na Guiné-Bissau, e das séries “Príncipes do Nada”, exibidas na RTP. Através destas séries, Catarina alerta para a realidade dramática de vários países em desenvolvimento e de outros locais onde as desigualdades são enormes.
Foi convidada, em 2000, para ser Embaixadora de Boa Vontade do Fundo das Nações Unidas para a População (UNFPA) – posição que assumiu em regime de voluntariado e que tem vindo a ser renovada, com base no trabalho desenvolvido, tanto em Portugal, como nos países em desenvolvimento. Participa em diversas conferências internacionais da ONU, onde partilha as suas experiências de terreno, apoia e promove diversas temáticas, nomeadamente a saúde materna, saúde sexual e reprodutiva, planeamento familiar, igualdade de género e Direitos Humanos de meninas, raparigas e mulheres.
Em 2012, fundou a Associação Corações com Coroa (CCC), uma Organização Não Governamental para o Desenvolvimento cujo objetivo é aumentar a defesa dos Direitos Humanos, especialmente com projetos dedicados ao empoderamento de meninas, raparigas e mulheres. O lema da CCC: “Apoiar uma mulher é apoiar uma família, uma comunidade, um país”.
Catarina é uma mulher de sete ofícios, que usa a sua visibilidade e influência em prol de um mundo melhor. Com uma experiência de vida inigualável e um coração do tamanho do mundo é, sem dúvida, uma grande inspiração para tod@s nós.
Lê a entrevista completa abaixo e fica a conhecer a opinião da Catarina sobre a temática da liderança feminina e igualdade de género.
Swood Team: Como uma das mulheres mais influentes em Portugal, enquanto apresentadora, atriz, presidente da ONG ‘Corações com Coroa’ e Embaixadora de Boa Vontade do UNFPA, o que é que mais valoriza de tudo o que conseguiu alcançar?
Catarina Furtado: “Valorizo a confiança que as pessoas têm em mim. A credibilidade que sinto que alcancei, fruto de um enorme trabalho de coerência, de partilha, de querer ouvir as pessoas certas, de saber que sozinha nada se consegue e que a serenidade, o sentimento de realização pessoal e profissional, chegam exatamente, através do trabalho de equipa, das conquistas coletivas em prol de um bem comum, maior que nós.”
Swood Team: Embora se fale cada vez mais de empoderamento e liderança feminina, a verdade é que ainda há poucas mulheres (comparativamente aos homens) a ocupar cargos mais elevados ou com mais responsabilidade dentro das organizações. O que pensa a respeito disto e porque acha que isto acontece?
Catarina Furtado: “É o resultado de gerações de exclusão. Tudo se resume a uma questão de poder. Um mundo dominado por homens e uma cultura dominada por homens irão sempre produzir resultados que favorecem os homens.
As condições de vida das mulheres são um dos melhores barómetros da sociedade como um todo. A forma como a nossa sociedade trata metade da sua própria população é um indicador significativo de como tratará os outros. Os direitos estão intrinsecamente ligados. Falar de direitos das mulheres é falar de direitos humanos.
Nenhum flagelo de direitos humanos é maior do que a desigualdade de género. Trata-se de uma tarefa de todas e de todos nós trabalhar pela igualdade, pela justiça e pelo fim da discriminação em Portugal e no Mundo. A pandemia exacerbou ainda mais a discriminação contra mulheres e meninas. A crise do Covid-19 ameaça ampliar as disparidades de género e reverter os avanços obtidos em termos de oportunidades económicas para as mulheres nos últimos 30 anos. A violência contra mulheres e meninas em todas as formas disparou, desde o abuso online até à violência doméstica, tráfico, exploração sexual e casamento infantil.
As mulheres sofreram mais perdas de emprego e foram empurradas, em maior número, para uma situação de pobreza. A juntar às frágeis condições socioeconómicas devido a rendimentos mais baixos, disparidades salariais e uma vida inteira com menor acesso a oportunidades, recursos e proteções.
As mulheres dominam nos sectores de trabalho doméstico e de assistência social e de saúde e por isso correm mais risco de infeção e transmissão do vírus. As mulheres estão na linha da frente da luta contra o vírus. Na União Europeia, 4 em cada 5 profissionais de saúde são mulheres
De acordo com os dados de junho de 2020 em Portugal, 81% dos pedidos de apoio excecional à família foram feitos por mulheres. Mundialmente, as mulheres representam 39% do emprego global e sofreram 54% de perdas de postos de trabalho. Em Portugal tinham desaparecido até abril de 2020, 85 000 empregos, 66% eram de mulheres.”
Swood Team: Para si, o que é que faz uma grande mulher?
Catarina Furtado: “Lutar pelos seus direitos e pelos das outras pessoas, nomeadamente as meninas, raparigas e mulheres a quem todos os dias são violados os direitos, a quem todos os dias, é silenciada a voz, a quem todos os dias é anulada a possibilidade de escolha, de ver realizado o seu potencial, de poder decidir sobre o seu corpo, a sua saúde sexual e reprodutiva, a quem todos os dias é negado o acesso a cuidados de saúde, à educação, à igualdade de oportunidades.
Uma grande mulher é alguém que resiste, que tem os valores certos e que tenta que ninguém seja deixado para trás.
Alguém que entende que a definição de sucesso, passa por contribuir para melhorar a qualidade de vida de outras pessoas, sobretudo raparigas e mulheres que representam 52% da população mundial e é quem mais sofre todo o tipo de discriminações e obstáculos ao seu futuro: casamentos precoces, gravidezes indesejadas, mortes maternas, violência sexual, tráfico humano, violência domestica, mutilação genital feminina, não acesso a cargos de decisão e negociação, disparidades salariais, dificuldades na conciliação familiar e profissional.
Uma grande mulher é alguém que inspira as outras mulheres a trabalharem em equipa para que todas vençam.”
Swood Team: Como acha que poderíamos trazer uma maior igualdade de género para a sociedade?
Catarina Furtado: “Investindo em projetos que promovam a igualdade de género. Com o envolvimento masculino. “Apoiar uma mulher, é apoiar uma família, uma comunidade, um país”, este é o lema que eu constato na prática nos terrenos que tenho reportado nas minhas missões enquanto Embaixadora do UNFPA e documentarista do programa “Príncipes do Nada”. Investindo em serviços de saúde sexual e reprodutiva e planeamento familiar para que as mulheres possam ter decisões informadas em relação ao seu futuro, às suas escolhas. Leis que não discriminem. Mesmo que sejam impostas até essa desejada igualdade de género ser atingida.”
Swood Team: Que conselhos gostaria de dar às futuras gerações de mulheres que ambicionam chegar a cargos de liderança ou posições influentes como a própria Catarina conseguiu alcançar?
Catarina Furtado: “Que aprendam a dizer não. Que nunca duvidem das suas capacidades. Que não desistam dos seus sonhos. Que trabalhem umas com as outras. Que sejam capazes de se ouvir. Que não tentem fazer o que alguns homens fazem para chegar ao poder. Que utilizem a enorme mais valia da mulher para conquistar o seu território: a empatia.”
Espetacular !!!!!
Parabéns Swood por essa entrevista e todas as anteriores.