Por Carina Marques – Swood Team
O teletrabalho assumiu-se, em contexto de pandemia, como a “nova normalidade”. Acordar, ligar o computador e iniciar o dia de trabalho sem sair de casa, sem perder tempo no trânsito e poupando nas deslocações, tornou-se a rotina de muitas equipas. A sala, a cozinha ou o quarto assumiram a função de escritório, o computador tornou-se no colega de trabalho predileto e a Internet a melhor aliada para fazer face às exigências do trabalho.
Apesar de o conceito de teletrabalho se ter evidenciado em época de confinamento, trabalhar remotamente não é totalmente novo. Profissionais freelancer, por exemplo, podem trabalhar a partir de suas casas ou de outro local com ligação à Internet, não havendo a necessidade de se deslocarem fisicamente para a organização empregadora. O mesmo acontece com o conceito de nomadismo digital, ainda em expansão. Isto é, os profissionais optam por trabalhar remotamente, apoiados em tecnologia, o que lhes confere liberdade para mudarem de cidade ou até de país, de acordo com a sua vontade.
Contudo, o conceito de teletrabalho experienciado durante o confinamento assume contornos ligeiramente diferentes. De um momento para o outro, as organizações foram obrigadas a adaptar-se e a providenciar as ferramentas e os recursos necessários para que as equipas pudessem executar as suas tarefas a partir de casa. Os colaboradores apoiaram-se em plataformas digitais para manterem contacto com os seus colegas de trabalho e com a chefia, realizando videochamadas e conferências virtuais. Desta forma, não se tratou de um indivíduo, solitariamente, a trabalhar a partir de casa, mas antes de equipas em contacto permanente, transformando a sua casa, o seu espaço pessoal no seu local de trabalho, por força das circunstâncias.
Este último ponto assume um caráter pertinente quando se discute a realidade do teletrabalho. Será que o equilíbrio vida pessoal – vida profissional se mantém ou é beliscado pela nova realidade laboral? Seria expectável que, com menos tempo dispensado para as deslocações e na preparação do dia, e estando em casa, fosse possível ir gerindo as duas esferas, pessoal e privada, em simultâneo. Contudo, dada a ausência de deslocações, os atrasos diminuem e, frequentemente, o horário poderá não ser cumprido: o colaborador inicia o seu dia de trabalho mais cedo e acaba mais tarde do que o previsto. Parece, ainda, que a necessidade de estar constantemente online e disponível se agrava em comparação com o formato de trabalho convencional, havendo uma mistura das dimensões pessoal e profissional, não se discernindo quando começa uma e quando acaba a outra.
Sendo a casa um elemento do espaço familiar, ao ser transformada no local de trabalho, a noção de separação entre o que é trabalho e o que é lazer/vida pessoal poderá perder-se. Na verdade, tudo é realizado no mesmo sítio, não existindo uma distinção clara das duas dimensões, mas antes uma mistura de tarefas de ambas que vão sendo executadas quase em simultâneo.
Trabalhar remotamente poderá, também, ter impactos na vertente social e de integração associada ao trabalho. O contacto diário e mais próximo com os colegas de trabalho e com a chefia é substituído por videochamadas, nas quais os indivíduos apenas veem pequenas caixas de imagem, por vezes, parada devido a falhas técnicas. O teletrabalho poderá impactar a forma como os colaboradores se relacionam entre si, com os seus superiores e, consequentemente, com a organização. Por outro lado, implica que os gestores estejam atentos às necessidades das suas equipas, nomeadamente à sua motivação, e que arranjem estratégias de mitigar as possíveis consequências indesejáveis do trabalho remoto.
Por seu turno, trabalhar remotamente poderá conferir algum conforto ao colaborador. Não é necessário sair de casa, não espera longas horas em filas de trânsito antes e depois de um longo dia de trabalho, consegue acompanhar mais de perto os filhos e prestar um maior auxílio à família. Além disso, vê os seus gastos em deslocações diminuírem e, até, os custos associados à alimentação. Acresce, ainda, que as ferramentas tecnológicas permitem a interação com a restante organização e que as tarefas sejam executadas, de forma a que a produtividade não seja gravemente afetada.
Apesar de todas as suas vantagens e limitações, o teletrabalho tornou-se parte da rotina, principalmente no período de confinamento. Após este tempo, resta perguntar se o teletrabalho poderá vir a ser o “novo normal”. É uma questão pertinente com uma resposta difícil de prever num momento tão incerto e particular como o atual. Contudo, é percetível que o trabalho remoto é possível e poderá ser uma opção, talvez não em regime full-time, mas misto.
Desta forma, o teletrabalho parece ser uma opção tendencialmente viável e, apenas com o tempo, se poderá avaliar de que forma e se integrará a realidade laboral.